O bairro da Gamboa caracteriza-se pela comunidade litorânea, secularmente habitada por pescadores, situada na entrada sudoeste da Baía de Todos os Santos nas proximidades do centro de Salvador. O Forte São Paulo da Gamboa, que surgiu como parte do plano de defesa da cidade, elaborado por João Massé, no século XVIII, foi inaugurado, possivelmente, em 1722. A fortaleza, como é denominada pelos moradores locais, hoje, em ruínas, serve de moradia para algumas famílias e é o local escolhido pela comunidade para a realização dos principais encontros e atividades da comunidade. O pequenino bairro conta com um também pequenino espaço cultural, o Teatro Gamboa. Na sua fronteira está localizado o Passeio Público de Salvador, onde encontramos o tradicional Teatro Vila Velha e o suntuoso Palácio da Aclamação do Governo. O Passeio Público debruça-se para o bairro da Gamboa e para uma das mais belas vistas da Baía de Todos os Santos.
A Gamboa fazia parte do primeiro espaço habitável de nossa cidade e era um lugar estratégico, desde que ali situava-se o acesso mais curto entre a vila e a cidade que se formou entre a Praça Castro Alves e a Rua da Misericórdia, constituída por Tomé de Souza em 1549. Não havia melhor acesso à Cidade de Salvador que não este? Não havia! Julga-se que a Ladeira da Barra pudesse ajudar. Se ela existisse naquela época, seria maravilhoso. Hoje ela desemboca justamente no Largo do Porto.
Em 1962, a construção da Avenida Lafayete Coutinho, a Contorno, traçou em tons mais definidos as fronteiras entre Gamboa de Baixo e de Gamboa de Cima. Sobre a avenida, por assim dizer, gente do Centro da Cidade Alta, sob ela, os ribeirinhos da Baía de Todos os Santos. Às Gamboas, os aspectos geográficos põem limites, mas também criam laços.
Não há dúvidas: de cima ou de baixo, na Gamboa a curtição é sempre apreciar da própria janela a imensidão do mar da Baía e gozar do clima de tranqüilidade, sensível pela brisa que alisa os cabelos de moradores ali chegados há muitos anos, testemunhas oculares das mudanças vindas com o passar do tempo. Sem dúvidas, também, que, sob a mesma rubrica, as histórias pedem acentos diversos, basta subir ou descer pelas ruas, becos e vielas do lugar. As duas localidades, embora, a rigor, não sejam bairros (fazem parte, oficialmente, do bairro 2 de Julho) têm identidade urbana auto-referente.
As pessoas não moram no Largo dos Aflitos ou na Rua Barbosa Leal. “Quanto tomo um táxi, digo ao motorista: ‘vou para a Gamboa’. Ele pergunta: de Baixo ou de Cima? E eu: ‘de Cima’”, conta Arlete Borges, 83 anos.
Pelos arredores, além da imponente pujança natural, história e cultura da Soterópolis. Museu de Arte Moderna da Bahia e resquícios do Forte São Paulo compõem o cenário da Gamboa de Baixo. Para a irmã, Gamboa de cima, entram em cena o Teatro Vilha Velha, o Quartel dos Aflitos, o Forte São Pedro e o Teatro Gamboa Nova. Sem esquecer do restaurante Chez Bernard, de comida tradicional francesa, há 43 anos na praça, velho conhecido de turistas e dos soteropolitanos.
Menos famoso, mas onde turistas degustam comida típica baiana, há um correspondente, mais simples do Chez Bernard, na Gamboa de Baixo: o restaurante Beira Mar, tocado pelas irmãs Ana e Mônica Arcela.